sábado, 30 de julho de 2016

Sobre o que não sei respirar


É engraçado...
E a gente começa assim, ou termina, frases ditas onde a gente não prevê o futuro, nem onde vai chegar vírgula ou ponto final. Afinal, é cheia de tiros no escuro, essa vida. A gente vive de arriscar o tempo inteiro. Se não apostar, nunca vou ganhar. Se não comer, nunca vou saber se gosto. Se não amar, não vou sofrer e nem saber de tudo que isso me ensinaria. Se não tentar de novo, nunca vou saber se pode dar certo. E a vida segue assim. Quase nunca precisa fazer sentido. Uma sequencia de fotos e fatos, uma boa trilha sonora e garrafas de café pra sustentar as noites nos olhos pesados. A vida é pesada, é leve, é brincadeira, é passarinho. É muito amor. Vai do alívio pleno, no ombro, ao dedinho na quina, a dor.

A gente joga bola na rua e se apaixona. Senta do lado de um alguém meio bagunçado, no ônibus, e se apaixona. Vai sozinho numa sorveteria e se apaixona. Volta pra casa, acompanhado, porque está apaixonado. Bate a porta e não fica ninguém do lado de fora. A gente se apaixona demais e esse é o gás hélio da vida. É bonito.

É engraçado... E a gente diz isso, também, quando sabe o que dizer. É engraçado como a gente estuda, trabalha, abraça, almoça e dorme, planta uma árvore e ainda tem tempo pra amar. Amor consome, desgasta, aperta e vive. E amor acaba. Nunca tive medo dele por isso. Acabar é uma palavra forte e por isso prefiro adormecer. É uma questão de poesia, mas eu tenho os asas, tenho de raízes no chão.

Desculpe por falar tanto em nós, mas tenho medo de falar sozinha e me perder. É que todas as noites eu penso no quanto essa vida tão amor quis me endurecer. Eu não deixei, mas eu não quero enfraquecer, não, sabe? Uma frase tem ecoado na minha cabeça. Algo como um espelho me dizia que “as coisas têm acontecido tão rápido que não dá tempo eternizá-las”. Eu, acredito no “eterno enquanto durar”. E eu quero viver de momentos. Longos, curtos, de vida inteira. Eu procuro intensidade. Como vou me entender ou explicar pra alguém? Não pretendo. As pessoas me enchem de perguntas...

Eu não sei. Normalmente baixo a linha do horizonte, fito minhas mãos se cruzando e as bochechas virando flor e digo que não sei. Quase nunca precisa fazer sentido. Sempre gostei de ligações na madrugada e mensagens nas tardes de quinta. Gosto das pessoas que semeiam o bem, dos momentos que me fazem esquecer e de quando sorrio quando alguém vai embora com a deixa de voltar. Prometi pra mim que não ia esperar a volta. Descobri que não consigo. Ficar na superfície não é comigo. Mergulho. Encho os pulmões com todo o ar que puder e mergulho. Mas definitivamente não sei nadar.

Na madrugada ninguém ligou. A luz que ilumina o quarto inteiro acendeu por conta própria. Liguei. Caixa de mensagens. Por falta de coragem, fui até o fim:
- Me desculpa, você. E que me desculpem, também, os cadeados, as trancas, as portas e as janelas fechadas. Eu nasci pra passarinho. Sempre gostei de laços, mas, agora, vou cuidar dos que carrego no pulso e no cabelo. Primeiro eu.

Desliguei e levantei pra buscar mais um pouco de ar...

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Look-brechó do dia: roupa velha é sempre o melhor pijama.

"A sociedade precisa começar a aceitar pijama como uma roupa normal pra sair de casa".

Quem nunca leu e, principalmente, compartilhou ao menos uma vez esse desejo íntimo e latente que a gente só tem coragem de expor no facebook onde (quase) tudo é tão fácil, fale agora ou nem comece a zuadar.
Na verdade, no meu caso, se Mainha não dissesse tanto que tem vergonha de me ver indo pros canto vestida assim, como se não tivesse um roupa que preste, eu usaria mais vezes. Na última vez que tentei sair de casa usando samba-canção, ela me fez voltar e trocar de roupa. Fiquei linda? Fiquei, claro. Mas de samba-canção eu tava linda e confortável.

Sou um grude nojento quando o assunto é roupa velha. Além de as roupas, indiscutivelmente, ficarem mais confortáveis com o tempo, eu acabo associando elas a alguns momentos e/ou pessoas e já era. Parece até que eu quero ser um livro, numa língua que só eu entendo, com uma história que só cabe a mim. Mas faço questão de ser. E, além do mais, roupa velha é matéria-prima pra melhor roupa que há: pijama. 

E aí tem as categorias: o pijama mesmo, que a gente compra bonitinho, o par ou o vestido, mas é quando dá aquela cagada no elástico ou aquele rasguinho na alça que a gente se apega com gosto, né não? Tem a camisa, grande, do namorado que fica sempre melhor na gente. Tem as camisas de candidatos a vereador ou das corridas do SESC. Tô agora na vibe da roupa velha e não tem quem me tire dela. Esse look, que eu já usei tanto, separado, pra sair, virou meu pijama mor. Principalmente nas noites em que as muriçoca tão com a gôta e num tem perna que aguente!!!



Um dia essa blusa, que comprei há uns 3 anos, teve uma gola "normal" e com elástico e as cores da estampa (que-eu-amo-e-não-é-pouco) já foram vivas. Já a calça que, se não me engano, comprei no meu primeiro ano da faculdade (doismilionze, caraaaca!), tava há muito tempo na gaveta das "eu sei que um dia vou usar" e não é que eu tava certa? Infelizmente pude constatar que ela tá muito mais folgada do que tava naquele ano, mas sejamos positivos e foquemos no conforto. As havaianas herdei da minha mãe que, depois de herdar da minha irmã, vacilou e deixou Apolo (nosso terremoto disfarçado de cachorro) dar umas mastigadinhas. Como ela ficou feínha, veio pra mim. Agora eu vou é pra todo canto com ela. Escondida também. Esse povo é cismado demais comigo, pense!

 

As fotos abaixo são exemplos claros de que esta que vos escreve nasceu cheia de jeito, charme, postura e desenvoltura pra falar de moda e fotografar looks. #sqn Não é que eu não consiga ficar um pouco mais parecida com gente. Eu consigo e nem preciso me esforçar muito. E até gosto. Mas eu faço é não fazer muita questão, mesmo. É que eu nasci assim, eu cresci assim...







E pra compor o look, os acessórios: As três fitinhas, de sempre, no braço: um fitilho, um escapulário e um colar de pedra branca. Um pomponzão pra amarrar o cabelo, antes de dormir (ou qualquer hora do dia que falta a paciência) tipo um abacaxi pra não amassar os cachos (aprendi com Rayza Nicácio e quero ser ela quando eu crescer).  O anel de formatura que eu perco e acho todo dia. E aquele cordão que não sai mais, que já prendeu mil vezes no cabelo, que eu cheguei no migo e disse "- que cordão lindo!" e ele: "- pega, agora é teu!" (migos, façam isso sempre). E um bom par de olheiras, porque se vamo falar de roupa de dormir e mendigar em casa, vamo falar direito.


Blusa: C&A | Calça: É no Ponto da Moda que a gente se vê  | Havaianas cor-de-nada: herdei de Mainha que herdou de Didinha.


sexta-feira, 22 de julho de 2016

Eu vim te trazer o sol ♫

A gente não quer nem pensar em sol mais do que já se pensa involuntariamente nesse calor escaldante do Cariri, ainda mais num pleno e típico dia de romaria em Juazeiro, onde descer a rua São Pedro até o fim, com paciência, poderia muito bem ser um teste de resistência física e mental, certo? Certo. Mas só até que se conheça o som da Projeto Rivera. Aí a gente vai querer ver "sol e lua dançando no céu e ser dia quando anoitecer". E vai querer muito!

Vira e mexe acontece de se descobrir uma música nova, pesquisar a banda, baixar o disco e esquecer de escutá-lo. Uma música num novo comercial de carro ou de shampoo. Uma música que um amigo que não se vê há tempos estava ouvindo no fone de ouvido e, no abraço do encontro, se ouve e pergunta sobre. Uma música na rádio Pe. Cícero que supera o movimento e a quintura de uma tarde na bendita rua São Pedro e que nos assalta os sentidos e a gente dá graças aos céus por ter pego aquele panfleto lá atrás pra usar, agora, pra anotar um trechinho pra pesquisar quando chegar em casa. Pesquisar, ouvir, curtir, baixar o disco. Mas nesse meio tempo o corpo esfria e a gente esquece. Pelo menos gente avuada como eu. Mas, das vantagens de ser assim, a surpresa é a maior. Muita coisa, quase sempre, soa e dança como nova, e aí a sensação é outra, o afetamento é novo e a emoção fica ainda maior. E isso me aconteceu com R I V E R A.

da esquerda pra direita: Matheus Brasil. Oziel Albuquerque, Victor Caliope, Flávio Nascimento, Bruno Silveira e Gabriel Fontenele / foto da fanpage da banda

Não lembro como conheci a banda, mas é bem provável que tenha sido em alguma das tantas aventuras pelas ruas da capital cearense. Só sei que quando vi o cartaz do Rock Cordel achei o nome familiar e fui correndo na minha pasta de músicas e lá estava, sabe-se lá desde quando, o "Eu vim te trazer o sol". Ouvi, me deliciei e fiquei logo eufórica. Já sabia que faria questão de ir ao show deles e já chamei uma amiga que, no dia, acabou não podendo. Quase desisto. Sei tanto do que pode ser bonito e tenho pensando muito sobre aprender e gostar de ficar sozinha, mas não gosto e nem acho que vai acontecer um dia. De qualquer forma, tenho tentado aproveitar as oportunidades que me aparecem de ser minha própria companhia. E essa foi uma e ainda bem que não desisti de ir. Encontrei pessoas que não via há tempos, abracei os abraços e saltei serelepe o que achei que deveria. Falei com pessoas (várias! e foi assustadoramente legal.) que nunca tinha visto na vida. Umas estranharam, outras entranharam. Fico com o segundo grupo. Ainda bem, mesmo, que não desisti de ir.

O show é de uma beleza singular. O som leva nosso corpo do rock ao maracatu e nos bagunça. As letras são quase o tempo inteiro bons desejos de leveza, simplicidade e verdade. Uma mistura que a gente precisa pra seguir acreditando na inspiração da música, da arte nessa vida que a gente acaba carregando como peso nos ombros, quando deveria ser uma caminhada camarada, lado-a-lado. As energias dos meninos se entrelaçam no palco e como numa grande rede embalam o público num aconchego e alegria enormes. Gritei e pulei aos montes (n)as músicas que eu já sabia de cor e, confesso, até chorei. É difícil controlar a emoção num show em que nenhum físico linguarudo conseguiria lidar com tanta energia que emanava e multiplicava e contagiava e... Mas boa parte do show, mesmo saltitante e inquieta, observei muito - sorrindo, sorrindo tanto até que as bochechas ficaram doendo -  os meninos no palco: os trejeitos de cada um, a conexão com os outros, a cumplicidade. Foi tudo muito bonito de ver e de sentir. Quero mais, quero de novo, quero muito. O mundo todo deveria ir a um show da Rivera pra, no mínimo, recarregar as energias pra continuar.

19.07 / depois do show no Centro Cultural Banco do Nordeste / foto: Gabriel Bessa @bessafotografia

Depois do show a galera ficou na frente do CCBNB pra trocar palavras, abraços e flash's com os meninos da banda e, pela primeira vez na vida, não me vi tietando. Mas explico: meus dois joelhos ficaram doendo muito com os pulos durante o show, então fiquei dando um tempo por ali de boa. Mas, claro, tiete que é tiete de coração, segura a dor dum joelho tremendo e pede abraço. Abraço sempre! E depois do abraço e do beijo na mão de brinde, acabei trazendo pra casa o CD deles e, porra!, tinha como ficar mais encantada, sim, por esse povo lindo. O arte do disco é um trabalho manual, cheio de detalhes e criatividade. Cada pedacinho que a gente desdobra, vê, lê, deixa a gente mais encantado e ainda mais admirado por um lance alicerçado no companheirismo, criatividade, arte e, claramente, muita paixão. Não sei se eu tô sentindo a coisa certa, o esperado. Não sei se é possível que haja algo certo e determinado a se sentir vivendo esse show e acompanhando esse trabalho. Mas senti e senti muito e quero sentir mais. Aí se a pessoa corre lá no youtube e vê os vídeos dos caras: pronto!; vê que cabe meio mundo de mundo dentro da gente e dessa gente criadora de coisa boa!

Fui fazer algumas fotos do disco pro post e acabei me empolgando um pouco. Foi difícil escolher só essas. Amei as cores, os traços, o céu, o três... 










Foi lindo! Tudo muito lindo e encantador!
As músicas, os detalhes e as cores recarregaram minhas energias. Os abraços me colocaram no eixo (o meu, torto) e me deixaram de pé. Uma dorzinha no joelho até dois dias depois, é fato, mas o que seria de nós sem essas dores diante dos motivos que nos trazem fé, afinal?! Recomendo, de coração, a banda e a espera pelos abraços depois do show.

Eu - dizem - que sei tanto sobre abraços, aprendi com Victor naquela noite, entre algumas tentativas de usar palavras inteiras pra agradecer, mais uma possibilidade de sentir: "Abraço bom é esse que acaba com um (suspirou forte e profundo)... A gente sente..."



@projetorivera // fanpage Projeto Rivera // snap: projetorivera // www.projetorivera.com // contato@projetorivera.com // (85) 9 9988-9098 |

terça-feira, 19 de julho de 2016

Diálogos de bolso sem fundo #1


sala de aula. segundo horário. metade de uma semana cansativa.

- tu queria estar em outro lugar agora?
- sim, por que?
- quer me dizer qual é o outro lugar?
- quero, mas antes posso saber a razão da pergunta?
- se eu não te disser, tu não vai me dizer?
- vou, mas tu não vai me dizer?
- tudo bem se eu só disser depois?
- tudo... eu queria estar lá em casa, com tu, estudando de verdade, tomando café e namorando. vai me dizer agora?
- seria muito, muito bom... eu disse que diria depois, logo depois, da tua resposta?
- não, mas não entendo por que você esperaria mais pra responder... você vai me falar quando, então?
- pode ser depois da tua resposta à minha próxima pergunta?
- pode. qual é a pergunta?
- tu imagina pollyana falando quando escuta a voz dessa professora?
- na verdade não tava imaginando, não. mas agora que você falou...  mas acho que ela deve ter um sotaque mais carregado que esse. tu não acha?
- acho, sim. e também acho que pollyana dando aula é tão engraçada quanto ela. né?
- é sim!!! agora fala o por quê, amor...
- tu sabe quantas interrogações tem nessa conversa?
- sei... já tava até pensando em um título pra ela... tu não?
- não exatamente. eu tava pensando, mesmo, no tempo que eu perco buscando respostas quando gosto, muito mais, de só conversar contigo. claro que quero respostas e as quero contigo, mas quero muito mais que a gente exista, (pra) sempre, independente delas.
- então a gente continua assim: se respondendo com interrogações que é pra quando aparecer um ponto final, vir um sorriso e a vontade da gente de novo... vamos cair nessa rotina?

se olharam e se sorriram de canto de olhos e bocas sempre tão desejosos, firmando um sim só e tão deles. antecedendo as últimas trocas de bilhetes, discretamente, deram as mãos por uns instantes.

- amor?
- oi?
- presta atenção na aula...

acabou o tempo. escolheram muitos títulos provisórios pros seus diálogos de salas de aula, cabeceira e mesa de bar. até que chegou ponto de fim, mas o sorriso e a deixa, não...
e como o que não se espera que vire parte da rotina, ponto final.

domingo, 17 de julho de 2016

Hoje. Porque ontem esqueci e amanhã já se apagou...



Todo começo é feliz. Todo fim é triste. É bem assim, todo mundo sabe, mesmo que pareça nunca saber lidar com isso. É previsível. Maktub. Pelo menos até que se permita escrever novos roteiros depois de colecionar bons e certeiros clichês sobre recomeços. De clichês eu entendo e sobre isso tenho um punhado, mas hoje, fico apenas com Guimarães Rosa: "A noite não é o fim do dia: é o começo do dia que vem". Acontece que, aqui, antes de reconhecer que o final de uma volta do caracol é a deixa pra o começo de outra, anoitece.

A mim, interessa o inesperado. O abraço que chega de surpresa, sem que os olhos avisem ao corpo, pra acelerar o peito e nos despertar. A vida acontecendo sem que a gente perceba até que nos é preciso roubar um pouco de ar. E quando a gente menos espera, já se foi mais um reencontro dos ponteiros do relógio na parede de tédio branco, o player já voltou pra primeira faixa do disco que nem dói mais e já nasceu estrela no céu quando ainda é manhã. Quando a gente mesmo espera, deixou de esperar e nem se deu conta. E perdeu as contas, esqueceu os números e reaprendeu a escrever. O roteiro, a poesia, a vida. Seguindo os passos um a um. A mim, interessa o surpreendente.

Insisto, desisto, resisto e quase perco o chão. Acredito no voo mais do que nas asas.
A vida segue. E é aí que a gente se continua.
E há que se reconhecer as coisas pelas quais se deve acordar e ter como motivo, quando pensamos nelas todos os dias, desde os dias que a gente não vê passar, até nos que a gente gostaria de parar pelo medo de ter pra sempre um nunca mais. Há, também, que se aceitar que os dias desleais existem pra nos lembrar que um corpo cicatrizado é como um mapa na pele de um viajante. É ali a sua história e é nela que (re)descobrimos que temos forças e energias pra amanhecer.

Parece confuso e óbvio demais, eu sei... Bagunçado e eufórico como bem são os começos. Cruel e frio como todo bom fim. É. E não é. Tudo - que sorte a nossa! - é muito cheio de "pode ser".
Então caminha. Corre. Sempre em-frente. Pega carona na primeira deixa que a vida te der e não para, menina. Continua...
Afinal, o amanhã já se apagou.

A poesia às vezes amarga, mas é docinha no final.