quinta-feira, 23 de março de 2017

Cansamos de transtornos, precisamos falar sobre (e usar) o Coletor Menstrual

(já passou a fase de usar as variações com esse título, né? mas eu já aceitei minha lentidão, me aceitem, também! obrigada.)

Já faz um bom tempo que penso em escrever sobre a minha experiência com o Coletor Menstrual, sobre como espirrar nesse período se tornou menos angustiante e sentar de perna aberta voltou a ser possível. Mas, como sempre, fui adiando a ideia até que de uns tempos pra cá tenho notado várias meninas falando no facebook sobre o coletor - a maioria sobre a expectativa pra usar logo ou sobre como ele é só amor - e eu só conseguia pensar que era um sinal pra botar logo essa escrita pra frente. Acontece que o que mais me chamou a atenção nessas publicações (e aí eu comecei a acompanhar grupos e fóruns pra ter uma visão mais ampla sobre isso), além de muita gente não conhecer o coletor - coisa que eu achava bem difícil visto que eu, avuada que sou, já uso há dois anos, foi o fato de muitas meninas demonstrarem ter dúvidas e até mesmo não saber coisas básicas sobre o próprio corpo. Então amadureci um pouco a ideia e além de falar da minha experiência, vou tentar esclarecer algumas coisas que eu acho fundamentais que a gente saiba, coisas que eu aprendi e/ou melhorei depois de o coletor entrar na minha vida e as questões que mais observei se repetirem nesses espaços. 

Acho importante falar que baseio essa escrita na MINHA EXPERIÊNCIA porque, ao contrário do que muita gente pensa (essa gente que tem preconceito, não se esforça o mínimo pra saber sobre o assunto e já critica), coletor menstrual não é "coisa de feminista que ama e acha a coisa mais linda do mundo menstruar e se melar" e tal (já ouvi e li isso, infelizmente). Pois eu não lido nada bem com esse período, tenho A G O N I A de sangue (vocês não imaginam o drama que eu faço por causa de um simples hemograma), fora as questões de dores e mudanças de humor que variam de pessoa pra pessoa. Por outro lado, já vi mulheres que lidam muito bem com o ciclo menstrual, e a quem o coletor só acrescentou bem-estar. Nós somos muitas, somos muito. Mas já vi, também, algumas mulheres nessa condição que acabam criticando quem não sente e vive esse período assim com tanta tranquilidade, generalizando como frescura o que algumas sentem ou como agem, o que prova que usar coletor não é uma prática do feminismo, este que nos ensina que devemos respeitar as limitações e escolhas umas das outras.

tu sabe de quem é essa ilustração? se sim, me diz! descobri ela desde que conheci o coletor, mas já não tinha crédito.

O que, de cara, eu já tenho como lição é o seguinte: nós precisamos tratar a menstruação com naturalidade. "Ah, mas todo mundo sabe que mulher menstrua". Sim, todo mundo sabe. E sabem tanto que isso é tratado simplesmente como algo corriqueiro, não mais como natural, inclusive por um grande número de mulheres. Eu vejo detalhes mínimos, mas que fazem muita diferença. Quando a gente naturaliza um processo que o nosso corpo necessariamente vai passar, e que vai ser no tempo e no jeito dele, nós aprendemos a cuidar melhor dessa casa que somos nós, pra nós. Se mudamos de cidade, mudamos comportamentos alimentares, se ficamos ansiosas ou estressadas, entre outras coisas, nosso ciclo pode alterar. Ou seja, ele acontece, e acontece mesmo!, independente de nós (não vamos entrar nas questões de usar remédios, com a intenção clara de alterar isso). Ao passo que nos conhecemos, é que entendemos nossas dores, os sinais do nosso corpo e marcamos xizinhos no calendário, por exemplo. O ciclo menstrual é marcado por alterações hormonais que geralmente causam mudanças de humor, muitas dores e desconfortos, fadiga, os sintomas da tão conhecida TPM. E é totalmente NATURAL e, sendo assim, deveria ser mais simples passar por esse período, né? É isso que quero dizer com naturalizar. É tudo normal o que a gente sente, inclusive o que nos incomoda. E sendo preciso passar por isso, a gente deveria buscar se sentir o melhor possível. Faz sentido pra vocês? Pra mim faz. Espero ter conseguido passar pelo menos um pouquinho do que eu sinto sobre essa parte do assunto. Eu sei que o drama é grande, sim. E é nosso. Então tá liberado sentir como a gente sabe sentir - e fazer chantagem e pedir chocolate, também, vai!



POR QUE EU RESOLVI USAR O COLETOR MENSTRUAL?
Como eu já disse, sempre tive muita dificuldade pra lidar com minha menstruação, quando mais nova principalmente. Eu ficava cheia de paranoias, achava que todo mundo reparava que eu tava "naqueles dias" e que, ao reparar, ficavam com nojo de mim. E eu ainda achava que simplesmente tava fedendo o tempo inteiro (o desconforto trazido quase sempre pelo contato do absorvente com o ar). Fora tudo isso, o medo constante que acho que toda mulher passou por isso ao menos uma vez, de que a menstruação vazasse. Ô inferno, viu!? E isso tudo piorou consideravelmente no ensino médio quando as únicas opções de uniforme feminino eram 1. justo ou 2. muito justo, e foi quando decidi usar o uniforme masculino e findei, por um tempo, virando motivo de piadas. Aliviando um mal-estar com outro, fazer o que, né? Hoje eu entendo que todas essas coisas que perturbavam minha cabeça contribuíam pra que eu sentisse mais dores do que o normal, já que levava tensão pros ombros, dos ombros pras costas (e eu já tenho escoliose lombar pra doer sem pressão nenhuma) e, de lá, pras pernas. Eu sentia muitas dores, chegava a chorar e ter dificuldade pra andar, mas, acabei acostumando (e eu odiava tomar remédios). Até que mais ou menos em 2014 apareceram os problemas que mais me incomodaram: assaduras e alergias. Perdi a conta de quantos tipos e marcas de absorventes tentei usar e nenhum me ajudava. Ou seja: além do desconforto que eu carregava por todo esse tempo, agora até usar roupa me machucava. Até que num certo período de 2015 que eu vinha com a imunidade baixa e, consequentemente, sentindo mais "agudas" algumas dores, decidi pesquisar na internet alguma forma de me livrar do absorvente. De cara vi sobre absorventes de pano e algodão, mas a agonia que eu tenho de sangue me fez passar direto. Foi rápido pra eu achar coisas sobre a Inciclo e, coincidentemente, logo que eu comecei a pesquisar uma amiga de Fortaleza começou a revender e eu só pesquisei mais um pouco e pedi logo o meu. A Inciclo foi a marca que eu mais gostei por ser a mais cheia de informações, muito bem explicadas e completas. Consegui comprar mais barato do que compraria diretamente no site e, como todas, a expectativa foi grande pra que ele chegasse.

COMO FOI A EXPERIÊNCIA DE USAR O COPINHO PELA PRIMEIRA VEZ? E NOS CICLOS SEGUINTES, TIREI  DE LETRA OU SENTI ALGUMA DIFICULDADE?
O primeiro dia que usei foi um dos melhores. Mas não se assustem se o de vocês não for, viu?! O coletor chegou no mesmo dia que a minha menstruação, o sonho de todas as meninas, né? Só usei à noite, mais ou menos umas 21h. Fiz todo o procedimento de higienização e só consegui colocar deitada, acreditam? Ainda bem que depois aprendi outro jeito, já pensou ter que deitar sempre? Onde? Nam... E fui dormir. Acordei na madrugada, levantei, tomei água, fiz xixi, voltei e deitei de novo. De repente dei um pulo da cama, assustada, lembrando do coletor. Tentei me mexer pra me certificar de que ele tava ali, mas eu não sentia nada. Fui no banheiro, procurei ele e tava tudo ok. Ah!, e por segurança eu tinha colocado um absorvente, mas não vazou nadinha. Voltei a dormir e só tirei o copinho às 8h da manhã, ou seja, mais de 10h depois. O copinho não tava nem na metade, o que me impressionou já que meu fluxo é muito intenso nos dois primeiros dias. Era o que eu imaginava, na verdade, e é essa a sensação que o absorvente externo nos dá, e eu percebi que não é tanto assim. E aí já não consegui colocar mais. Voltei pro absorvente no mesmo ciclo. E isso foi acontecendo algumas vezes. Por estresse, pressa, cansaço ou simplesmente por não estar afim de me tocar, acabo não usando, por alguns dias ou por ciclos inteiros, isso até hoje.
Ao longo desses dois anos que uso o Coletor, consigo me lembrar de um ciclo perfeito, o de dezembro de 2015, que mesmo com fatores externos que normalmente me abalam, não houve nada que atrapalhasse. Eu sentia até vontade de chorar quando tinha que tomar banho e esvaziar o copinho que tava ali tão confortável, certinho e me deixando tão bem. Então, eu peguei o jeito da coisa, só demorei a entender sobre estar relaxada (na verdade entendi, o fato é que sou estressada e só faço tudo às pressas, e eu tive que mudar isso). Tem dias que eu coloco e tiro várias vezes até dar certo. Com o tempo comecei a perceber que se a haste não me incomodar um pouquinho nos primeiros passos é porque alguma coisa tá errada (dá pra acreditar!?) e que, pelo menos em mim, o coletor nunca fica retinho. São coisas que podem mudar de pessoa pra pessoa, por isso é preciso paciência. E uma dica que posso dar e que uso até hoje, é o usar daqueles absorventes pequenininhos, protetores diários. No começo a gente realmente fica com medo de vazar, e muito provavelmente vai acontecer. Esses protetores nos ajudam muito nessas horas. Eu tenho sempre. Mesmo tendo melhorado muito das paranoias e já tendo pego o jeito da coisa, às vezes fico com medo que vaze. Acontece que hoje já não me importo se acontece, por que entendi que meu ciclo não é tão intenso assim e se acontecer, o coletor vai fazer a maior parte do trabalho, e vai ser uma manchinha de nada, como se fosse um corrimento e eu nem me preocupo, a menos que eu vá sair e demorar a esvaziar o copinho. Mas aí, nesses casos de eu não estar em casa, os protetores dão conta de boa. Acho importante dizer isso porque mesmo depois de muito tempo, uma vez ou outra a gente pode errar uma coisinha ali na hora de colocar, e é normal. Mas é esse mesmo tempo que nos ensina a ser mais tranquilas com essas coisas. E essa tranquilidade vale muito a pena.

O QUE MELHOROU EM/PRA MIM DEPOIS QUE COMECEI A USAR O COLETOR MENSTRUAL?
A principal coisa foi a tranquilidade. E em vários sentidos. Dormir em paz, vestir qualquer roupa, me movimentar livremente, que são as coisas mais básicas. Mas no caso das dores, por exemplo, elas diminuíram consideravelmente. O coletor não é um remédio, claro, mas ele tirou de mim a pressão de ficar o tempo inteiro achando que tava suja, indo no banheiro várias vezes, incomodada com o cheiro, dormindo toda dura e todas essas coisas. A tranquilidade está estampada também no que eu citei um pouco acima: às vezes acontece de colocar o coletor errado, por uma besteirinha, e vazar um pouco. Não fico mais louca quando acontece. Às vezes é uma manchinha de nada, que não vai dar trabalho limpar, e isso não me incomoda mais. E pude aprender muito sobre o meu corpo. O coletor exige um contato com o nosso corpo que a gente deveria ter desde sempre. Isso liberta a gente de preconceitos com nós mesmas, nos ajuda a entender o que a gente sente e, o que é importantíssimo: perceber quando alguma coisa está diferente. A gente passa a se entender e aceitar mais, sabe? Tem ciclos que eu simplesmente não quero usar o coletor ou se percebo que o fluxo tá levinho e se eu puder ficar em casa não uso nem coletor e nem absorvente e tá tudo bem. Essa proximidade comigo mesma me permite esses momentos de não querer usar nada, de não querer me tocar e pronto. Eu tenho aprendido sobre meus limites e me respeito. Isso é muito, muito importante.

O QUE É O COLETOR MENSTRUAL?
O coletor é um "copinho" de silicone, flexível e hipoalergênico de, em média, 7 cm (contando com a haste e pode variar de acordo com a marca) e 4 cm de diâmetro (acertei a palavra?). É usado internamente e substitui o uso de absorventes. O coletor é uma alternativa que dá maior liberdade e praticidade às mulheres no período menstrual. Com ele é possível praticar esportes, dormir sem calcinha, ir pro mar ou pra piscina, entre outras coisas, sem marcar a roupa e sem incomodo já que, por ser tão flexível, ele se encaixa direitinho no nosso corpo e a gente até esquece que tá menstruada.
Além de nos trazer conforto e liberdade, o "copinho" é uma alternativa sustentável já que dura, em média, 10 anos e, assim, nos livra de todos os meses ter que comprar pacotes e mais pacotes de absorventes que serão descartados e levarão muito tempo pra se decompor. E como se não já fosse coisa boa demais, o Coletor Menstrual é a solução pra manter a nossa vagina mais saudável, reduzindo consideravelmente os riscos de ter infecções. Feito de silicone hipoalergênico (sem uso de perfumes, corantes, látex), ele não resseca a vagina ou altera o PH, diferente dos absorventes que, por serem feitos de algodão, absorvem, junto da menstruação, "coisinhas" que são produzidas pela própria vagina. E tem o fato de, no caso dos absorventes externos, o contato com o ar facilitar o desenvolvimento de bactérias que podem causar infecções, somado ao calor causado pelo atrito do absorvente com a pele, o que causa assaduras e aumenta o incômodo, inclusive por causa do odor que o ar ajuda a espalhar.

pra vocês tentarem ter noção do tamanho







COMO USAR O COLETOR MENSTRUAL?
Primeiro é preciso, claro, higienizá-lo. No inicio e no final de cada ciclo, é necessário ferver o coletor por 5 minutos. É recomendado que se use aquele tipo de panela que é usada pra fazer mingal pros bebês, sabe? Eu uso uma panelinha que tinha aqui em casa, mesmo, e tá dando certo. Durante o ciclo, a cada vez que o copinho for esvaziado - o que deve acontecer com, no máximo, 12h de uso, isso vai depender também do fluxo de cada uma, eu tento nunca passar de 8h - pode ser lavado apenas com água, ou com sabonete NEUTRO, certo? Aí tu lava as mãos, né, e vai dobrar o coletor ao meio (é a forma mais simples), ficar numa posição confortável e relaxar. Mas, bom, não é tão simples assim. Leva um tempo pra gente descobrir o melhor jeito de dobrar o coletor, a melhor posição (que não são muitas opções, principalmente no caso de a gente precisar fazer isso sem ser em casa) e é por isso que se recomenda que não desista do copinho com menos de três ciclos, o que se imagina ser o tempo necessário pra você pegar o jeito. O coletor não fica numa posição tão alta (como o absorvente interno), a haste fica próxima à entrada da vagina, o que facilita na hora de tirar, sem fazer sujeira (pelo menos não muita). A flexibilidade do coletor faz com que ele desdobre tranquilamente e se molde ao nosso corpo, e pra saber se ele abriu direitinho a gente pode, com a haste ainda pra fora, passar o dedo ao redor do coletor ou, pela haste, tentar dar um giro completo nele que, se não estiver aberto, não vai girar facilmente. Eu uso a forma mais comum de dobrar, ao meio, mas já usei uma outra que funcionou muito bem, mas dava trabalho, então desisti. No youtube tem uns exemplos, olhem lá. Não é tão simples, mas é só uma questão de tempo pra gente se adaptar e conseguir fazer isso tudo rapidinho. Mas disso tudo, a dica que vai se repetir pra todos os ciclos, é que relaxar é fundamental e vai ser sempre necessário. Se a gente fica tensa, os músculos se contraem e não tem nada que passe por ali. Então respira fundo e vai que dá. Pra tirar é só encontrar a haste, puxar um pouquinho até conseguir tocar na base do coletor e apertar um pouco pra que o ar entre e a gente não puxe quando o copinho ainda estiver com a pressão do vácuo que acontece pela falta de contato com o ar. Só esvaziar no sanitário, no ralo, na pia ou nas plantinha, você que sabe. E pronto. Até o coletor precisa um pouquinho de ar, então lembrem: é preciso RESPIRAR.





Eu optei por usar o coletor da InCiclo porque foi o que me trouxe mais informações e me deixou mais segura. Tudo o que disse até aqui e ainda vou falar mais pra baixo, além de baseado na minha experiência, aprendi pesquisando e a marca trás muitas informações. Vou deixar aqui duas imagens que a gente encontra no site sobre como escolher o tamanho ideal do copinho e algumas comparações aos absorventes interno e externo.





Na caixinha, além do coletor, vem um saquinho de algodão pra guardar (se comprar de outra marca e não vier, tenta fazer ou comprar um assim, de algodão. evita potinhos ou coisas que abafem o coletor) e um manual com todas as informações práticas possíveis.



dá pra notar aqui que ele vai ficando amarelado. vi algumas pessoas comentando que no final do ciclo, acrescentam uma colherzinha de bicarbonato na água pra ferver. mas, até agora, preferi não fazer nada.



Como eu disse lá em cima, observando as postagens das meninas, notei que algumas tinham dúvidas sobre coisas muito simples e que a gente não deveria contar com a existência do coletor pra saber sobre. E as quatro questões que mais se repetiam e/ou que eu sei responder são as seguintes:

E SE EU COLOCAR O COLETOR, ELE "SE PERDER LÁ DENTRO" E EU NÃO CONSEGUIR MAIS TIRAR?
Gente, deixa essa história de buraco-negro pro universo. Só também não inventa de colocar, sei lá, uma bola de gude porque aí seria complicado mesmo de tirar sozinha. Mas além de o coletor ter uma estrutura apropriada pra todo o processo (colocar e tirar), as paredes do canal vaginal são resistentes e alteram de tamanho (no parto, por exemplo) e isso ajuda a fixar o coletor. O que pode acontecer é de a altura em que o coletor vai ficar alterar de acordo com a altura do colo do útero da mulher: se ele for mais alto, ao passo que a mulher de movimenta, o coletor vai subindo, mas ele vai se encaixar uma hora e pronto.

MULHER VIRGEM PODE USAR O COLETOR MENSTRUAL?
Pode e, inclusive, é uma boa ideia começar a usar ainda jovem pra estabelecer desde cedo esse contato com o corpo e o cuidado com a saúde. Mas é preciso pensar em alguns detalhes: o uso do coletor pode causar o rompimento do hímen e isso, pra algumas pessoas, pode significar "o fim da virgindade". O hímen pode romper até quando a menina está andando de bicicleta, a força dele vai variar de pessoa pra pessoa, acontece que até fatores como a religião pode influenciar em como se entende essa questão. O que eu sugiro é que nesse caso, a menina converse com a mãe (ou com quem cuide dela) e/ou com um ginecologista antes de começar a usar o coletor.

ENTÃO, COM O COLETOR, SEXO NESSES DIAS NEM PENSAR, NÉ?
Se você acha que o canal vaginal precisa estar livre pra fazer sexo, sim. E se você acha isso, mesmo, eu sinto muito. Sexo não é só penetração e, além disso, sexo oral e anal estão aí pra isso, minha gente. No período menstrual, com a bagunça dos hormônios, normalmente as mulheres tendem a ficar mais excitadas. A própria menstruação é um lubrificante natural que, no caso do uso do coletor não é uma opção, mas está ali funcionando, como todo o corpo da mulher continua funcionando independente da presença do coletor. É só aproveitar a situação e tentar outras coisas. Pode dar um medinho, afinal há um corpo estranho, mas vai com medo mesmo. Só se quiser, é claro. Mas possibilidades tem.

TENHO QUE TIRAR O COPINHO TODA VEZ QUE EU FOR FAZER XIXI?
Não, minha gente. O xixi sai pela uretra que é um canal que vai até a bexiga (ou vem de lá), e a menstruação sai pelo canal vaginal. Na hora do número 2 dá um sustinho, mas relaxa. Quando o copinho se abre lá dentro, é criado um vácuo, onde não passa ar, que deixa ele firme ali e não vai cair, não se preocupem. Nem tem muito o que explicar sobre isso. Mas pra ajudar, toda vez que eu lia alguém questionando isso, lembrava de uma cena de Orange Is The New Black. Clica AQUI pra tu ver.


Se tu chegou até aqui, principalmente se foi depois de ter lido, mesmo, isso tudo, espero, de coração, ter te ajudado relatando a minha experiência de uma forma que mais parecesse que estávamos conversando e que eu tenha, pelo menos, diminuído as dúvidas ou, mesmo, aumentado a vontade de dar uma chance ao copinho do amor.

Pra, enfim, terminar, quero dar umas dicas mais pontuais pra quem ainda está pensando se dá ou não uma chance ao Coletor:

- Pesquise, leia/ouça relatos de quem já usou, tire o máximo de dúvidas possível: Eu busquei ser detalhista e trazer o máximo de informações porque nem sempre a gente tem tempo de pesquisar muito e quando eu o fiz (e ainda faço), abria mil abas no navegador e assim a gente acaba se perdendo. Ainda assim, pesquisar muito sempre vai valer a pena.

- Não compre qualquer coletor, em sites de compra coletiva, que sejam mais baratinhos e/ou de marcas que você nunca ouviu falar: o coletor PRECISA ser de silicone cirúrgico, hipoalergênico, sem nenhum tipo de porosidade ou uso de compostos químicos que possam causar incômodos ou alergias e geralmente a gente só vai saber esses detalhes se souber bem a procedência do produto. Eu só usei o da InCiclo e conheço pessoas que usam o da Fleurity e gostam muito. Outra coisa que eu questiono é sobre os coletores coloridos, porque imagino que pra ele ter aquela cor deve ter algum tipo de corante, mas nunca pesquisei isso mais detalhadamente, apesar de achar lindos e ficar doidinha por um.

- Não tenha nojo do seu corpo: eu ainda lido muito mal com a minha menstruação, mas todos os bloqueios em relação a isso passaram. O coletor nos reconecta a nós mesmas e isso nos ajuda a entender a natureza desse ciclo e esse entendimento facilita tudo. Não é sobre se sujar um pouquinho, mas sobre saber lidar consigo mesma. E, convenhamos, gente, o absorvente é uma nojeira só, né? Ali em contato direto com a nossa pele. Coloca na balança, vai lá.

- Quando comprar, não desista na primeira dificuldade: eu já li sobre uma menina que lamentou muito não ter se adaptado, mas decidiu esperar um tempo pra tentar de novo. Nós já levamos muito tempo, muito anos negando o nosso corpo, usando mil e um produtos pra "nos limpar", então é super normal que a adaptação não aconteça logo. É sugerido que a gente tente por três ciclos, mas se não der, tente buscar seus limites e limitações, se entender e decidir o melhor pra você. Mas não desista porque tá difícil.

- Se permita: dar uma oportunidade pro nosso corpo descansar e se sentir livre é muito importante pra nossa saúde física e mental e o coletor pode nos trazer isso. Permita-se tentar, permita-se fazer esse esforço por você. O investimento no coletor é alto, então super cabe avaliar bem, pensar bem enquanto junta a grana. Mas tentemos sempre direcionar esses pensamentos pro nosso bem-estar, pra tentativas de nos melhorar. E permitir-se está relacionado, inclusive, a conhecer o coletor e descobrir que ele não se encaixa em você, na sua vida e no que você deseja. A parte mais importante disso tudo é poder se reconectar à você mesma, ao seu corpo e estar o mais próxima possível de si. Só assim a gente se entende, se respeita, se trata bem e, pra tantas outras coisas na vida, se permite.


duas fotos quase iguais e com essa blusa que eu não tiro mais e tô usando até pra fundo das fotos, sim, porque só sei gostar se for de cum força. 



quarta-feira, 8 de março de 2017

Mulher também usa samba canção

(adara sánchez anguiano)


Vadia!
Mais dia, menos dia, é assim que me dizem as más línguas
As boas, quando calam, me beijam a trindade: corpo, alma e coração.
Das duas, nenhuma me importa.
Quem sabe de mim, só deus e eu.
Meu deus que se veste de travesseiro e agarra minha mão em cada travessia, cada guerra, cada caminhada.
Eu nunca estou só.
Travo batalhas diárias, engulo sapos, enfrento leões.
Digam como quiser.
O fato é que sucumbo à ânsia que toda essa hipocrisia me causa com seus dedos nas caras alheias antes de me deixar dormir em paz.

Bem-me-quer...
Me acordam ao som de bons dias benditos.
Me tiram pra dançar.
Dois pra lá, dois pra cá.
Suas cuecas, minhas calcinhas.
Nossos pratos, xícaras, livros e lençóis.
A conta divida ao meio, de mãos dadas.
Seus direitos, meu deveres e o dia acabará bem.

Mal-me-quer...
Me tiram da cama aos ruídos de boas noites malditas.
Mentiras pra me ganhar. Me roubam.
Assaltam-me o corpo, machucam meus traços, arrancam minha voz.
Me ferem com os olhos.
Com as palavras, levam minha paz.
Meus direitos? Seus deveres?
Tudo disfarçado em placas de não-fume e em fés escancaradas.

Bem-me-quer, mal-me-quer e o mundo acabará sem flores!
Não há como escolher o dia, resta apenas contar com a sorte.
Não há como desenhar a noite, nos resta esperar que renasçam os jardins.
Amanhã acordo com voz! - amém -

E as marias, lúcias, filhas, mães e amigas?
As faxineiras, secretárias, modelos e poetas?
E as que sentiram diferente, as descobriram ser?
As que morreram ontem?
E as dores de hoje?
O mundo espanca, o corpo sangra.
Nossa raiz alimenta, nosso orgulho sustenta.
Hoje!

Segundos eternos pra mente: não há o que esperar!
Não minto, fraquejo.
Me laço, não paro.
De dedos cruzados, desejo.
Que as bandeiras continuem erguidas, que as vozes gritem ainda.
Que toda poesia que existe na luta não deixe parar.
Logo menos amanhece e a força torna a voltar. - amemos -

Vem dia, vai dia...
Escalemos até o topo de nossos problemas,
Pisando firme no alto das falácias e (pre)conceitos de pseudo-gentes.
No toca-fitas e no corpo, a canção mais confortável
E de salto agulha sambar à vida, sambar à luta
Sambar o orgulho de ser mulher!

06.06.2012

domingo, 15 de janeiro de 2017

A essencial fragilidade de ser


uma das grandes lições que aprendi até aqui foi sobre enxergar, entender e aceitar a fragilidade. em vários aspectos da vida e tudo o que, tendo aprendido e vivido tanto, tão mais na intensidade do que nos números, a gente passa a reconhecer o quanto tantas coisas são únicas e que, pela facilidade de tornarem-se nada, pedem cuidado.

a vida é o potinho de vidro mais frágil que nos cabe cuidar e, talvez por isso, o mais bonito. todos os clichês sobre como devemos aproveitá-la, viver como se não houvesse amanhã e entender como isso tudo aqui é passageiro, acabam fadados à mesmice, até que a própria vida nos cobre a urgência de viver. não com desespero, mas com atenção: para o que realmente importa, para o amor, para as pessoas, para os encontros, pro sorriso do bebê no banco ao lado num colo meio despercebido, pro senhorzinho sentado na calçada de casa num fim de tarde enfadonho e despretensioso que é, senão, a própria vida a passar. e ela passa. num sopro... o mesmo que apaga as velas e lança os nossos desejos no ar.

as nossas relações são frágeis. quando menos se espera, a força com que segurávamos as mãos dos amores de nossas vidas por cuidado, pode tornar-se a força que nos transforma em nossos próprios algozes. não por querer, é claro, o amor não quer (fazer) doer nunca. mas o amor adoece porque ele também é frágil. lindo, sublime, incrível e, sim, também, frágil. e os amores são tanto(s) e de tantas formas: os amigos, os irmãos, as famílias de sangue e/ou laços, os amantes. os amores que transpõem os limites dos mapas e a frequência do wi-fi. os amores que se vêm um dia por ano e vivem, ali, uma vida inteira. os amores que estão lado-a-lado e esquecem-se de si. os amores que se encontram debaixo de um pé de moringa e se abraçam. os amores de ônibus, corredores, bares e sorveterias. tantos. mas aí já é segunda-feira de novo e não dá mais tempo se ver. aí já tenho que fazer mais um trabalho esse semestre, então, "hoje não". aí as prioridades mudaram, esqueci de responder a mensagem e o ano já acabou.

as nossas convicções são frágeis. a gente jura que vai ser pra sempre, mas acaba; a gente não aceita outra forma porque foi assim que aprendeu em casa, mas um dia precisa ir embora; a gente não entende porque não quer, mas tem uma boa resposta pra disfarçar; a gente diz que esse foi o melhor dia da nossa vida, mas só até que chegue outro. (quase) tudo o que a gente toma por certeza é inútil. a beleza de estar aqui é aprender e, principalmente, com o outro. de que adianta, afinal, sempre basear nossas questões somente no nosso ponto de vista? a gente até pode - e deve! - saber ser só, mas ninguém quer isso, ou merece. aprender a olhar pelos olhos do outro é um trabalho cotidiano, muito necessário e que vai, sim, quebrar tantas das nossas frágeis convicções.

uma das últimas coisas mais marcantes que ouvi e ficou gravada em mim foi sobre como precisamos parar pra pensar no quanto estamos permitindo que coisas ruins nos aconteçam. é claro que circunstâncias alheias à nós podem nos tocar, mas será que não estamos descuidando do trabalho de nos conhecer e nos respeitar? quantas vezes deixamos que nos podem pela conveniência de não criar conflitos, por medo, por amor? e as energias negativas que semeamos, o bom dia que adiamos dizer e a clareza e honestidade - com nós mesmos e com os outros - que achamos que não é tão importante assim e, de repente, percebemos que era só o que faltava pra facilitar o encontro ou o adeus e pra dormir em paz?

nós somos seres frágeis. pude sentir isso na pele, no coração e no travesseiro que passou dias sem secar. mas aí eu percebi que junto a isso, nós somos, também, fortes. e muito! quando falo na fragilidade dessas coisas, não me refiro a andar pisando em ovos pra não perder, não machucar, não errar, nem nada disso. me refiro a reconhecer que o cuidado é muito necessário à vida, que a dedicação é fundamental nas nossas relações e em tudo o que fazemos e que, de forte, só precisamos de abraços. já é tudo tão latente e doído, que o que pudermos fazer com leveza, com o cuidado de quem carrega cristais ou recém-nascidos, deve ser feito pra logo, pra ontem. pra sempre.

tem uma música que diz assim: "se eu sou frágil e tu é frágil, vamos nos proteger". é uma música de amor-amante, eu achei e cantei até hoje assim. mas sendo tanto(s), também não é tonto, amor!? reinventemos, então. porque a gente precisa amar, se proteger, cuidar uns dos outros. o afeto vale muito a pena! é ele a capa super-heroica que envolve toda a nossa fragilidade de ser.